Estudo da UFRPE aponta que 44% da área da cidade são afetadas e monitora 54 pontos, com sugestão de soluções para lidar com o problema, relacionado às mudanças climáticas.
Um relatório do Instituto para a Redução de Riscos e Desastres (IRRD) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) apontou que 44% do território da cidade do Recife tem risco alto para a ocorrência de inundações. Segundo o IRRD, os pontos de inundações e alagamentos aumentaram nos últimos três anos.
A entidade realiza o monitoramento de 54 pontos da cidade. Alguns pontos de acúmulo de água são bem conhecidos dos recifenses:
A Av. Agamenon Magalhães, no trecho entre os bairros do Espinheiro e do Derby;
As avenidas Jean Emily Favre e Mascarenhas de Moraes, entre os bairros da Imbiribeira e do Ipsep, na Zona Sul da cidade
E o cruzamento entre as avenidas Recife e Dois Rios, também na Zona Sul.
O trabalho é feito em parceria com o Instituto Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (Lika/UFPE) e com o Programa de Mestrado Profissional em Gestão Ambiental do Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação de Pernambuco (IFPE).
Quando chove na capital pernambucana, os pesquisadores ligam o alerta e ficam atentos às informações que chegam da Autarquia de Trânsito e Transporte (CTTU) e da Defesa Civil do Estado, e marcam os pontos de alamento e inundação no mapa da cidade.
A tendência é que, se nada for feito, o risco aumente com as mudanças climáticas, que favorecem eventos extremos, como chuvas fortes em pouco tempo.
Hernande Pereira, coordenador do IRRD/UFRPE, explica que esses pontos estão num território de planície costeira, agravado pela impermeabilização do solo.
“Você vê que eles estão distribuídos próximos a cursos d’água e locais onde tem um relevo baixo, que, a partir daí, a água que precipita da chuva vai acumulando nos locais. Às vezes não precisa nem chover, você vai em alguns locais que só precisa ter a maré alta e você vê esses pontos de alagamento na cidade do Recife”, explica o pesquisador.
Ricardo Albuquerque é mecânico e mora desde criança no bairro do Coqueiral, perto do Rio Tejipió, um dos pontos monitorados pelo IRRD. Ele viu o rio perder espaço para a construção de casas e sabe que esse é um dos motivos das inundações. “Tem que aprofundar mais o rio e o pessoal deixar de jogar lixo”, diz.
Jaime Cabral, professor de hidráulica e drenagem urbana da Poli/UPE, explica que é preciso devolver o espaço dos rios para reduzir as inundações.
“Nós estamos limitados pelo nível do mar. Então se a gente cavar os leitos dos rios, vai ficar inundado e a água não sai. Atualmente tem a técnica de jardins de chuvas, onde você melhora o solo e deixa ela se infiltrar no jardim, para não inundar”, Jaime Cabral, professor de drenagem e hidráulica da Poli/UFPE.
Plano para reduzir alagamentos
A prefeitura do Recife montou um plano que promete reduzir os alagamentos pela metade em seis anos. É o Promorar, com investimento de R$ 2 bilhões. Uma das ações é urbanizar 40 comunidades com saneamento e drenagem.
“As 40 comunidades estão distribuídas na cidade: 16 estão na bacia do Rio Tejipió e as outras estão em áreas que alagam noutras áreas”, explicou Beatriz Menezes, secretária executiva do Promorar.
O Promorar também prevê obras de macrodrenagem e construções de parques alagáveis, projetados para alagar em dias de chuva e servirem de área de lazer em dia de sol. O parque alagável do Ipsep é o projeto piloto.
O primeiro passo foi a desapropriação de 100 imóveis e o alargamento das margens do rio, no trecho entre Ipsep e Areias. A distância entre as margens aumentou de 10 para 30 metros, em 2022. A obra deve terminar em novembro deste ano.
“Hoje a gente tem a proposta de quatro parques alagáveis, dois diques, reservatórios sob pavimentos, espalhados por toda a bacia do Rio Tejipió. A gente não pode impedir que chova, mas tem como garantir que aquelas áreas que a gente sabe que vão alagar, a gente possa emitir um alerta para as pessoas, para que elas não percam todos os seus bens e, principalmente, a sua vida – que é o bem maior de todas as pessoas”, disse Beatriz Menezes.