Segundo Francisco Gonçalves Peres, o bônus demográfico é um fenômeno que ocorre quando a proporção da população em idade economicamente ativa (geralmente entre 15 e 64 anos) é maior do que a população dependente (crianças e idosos). Essa configuração cria uma janela de oportunidade para acelerar o crescimento econômico, já que há mais pessoas produzindo, consumindo e contribuindo com impostos, ao mesmo tempo, em que há menos dependentes demandando serviços públicos.
Em mercados emergentes, essa fase pode representar um verdadeiro impulso ao desenvolvimento, como foi o caso da China nas últimas décadas e, anteriormente, dos “Tigres Asiáticos”. Com políticas públicas adequadas — como investimentos em educação, saúde e criação de empregos — o bônus demográfico pode se traduzir em avanços significativos de produtividade, inovação e renda per capita.
Como o envelhecimento populacional afeta o crescimento econômico?
O envelhecimento populacional inverte a equação do bônus demográfico, pontua Francisco Gonçalves Perez. À medida que a taxa de natalidade diminui e a expectativa de vida aumenta, cresce a parcela da população acima de 65 anos. Esse grupo, em geral, sai da força de trabalho ativa, o que reduz o número de contribuintes e aumenta a demanda por aposentadorias, cuidados de saúde e outros serviços sociais.
Em mercados desenvolvidos, como o Japão e a Europa Ocidental, os efeitos do envelhecimento já são palpáveis na estagnação econômica e no aumento do endividamento público. Para os mercados emergentes, o envelhecimento pode representar um risco futuro ao crescimento se não forem implementadas reformas previdenciárias, estratégias de produtividade e políticas de imigração que compensem a redução da força de trabalho jovem.
Quais países emergentes estão aproveitando o bônus demográfico?
Alguns mercados emergentes ainda vivem plenamente o bônus demográfico e colhem seus benefícios. Índia, Indonésia, Vietnã e grande parte da África Subsaariana são exemplos de regiões onde a população jovem é predominante. Na Índia, por exemplo, mais de 50% da população tem menos de 30 anos, o que representa uma vantagem competitiva em termos de mão de obra e consumo interno.

De acordo com Francisco Gonçalves Peres, a grande questão, no entanto, é transformar esse potencial em crescimento real. Para isso, são necessários investimentos massivos em capacitação, inclusão digital e infraestrutura, além de reformas para tornar o ambiente de negócios mais dinâmico. Sem esses esforços, o bônus demográfico pode virar um “ônus”, com altas taxas de desemprego juvenil e tensões sociais.
O Brasil ainda pode se beneficiar do bônus demográfico?
O Brasil está numa fase de transição, observa Francisco Gonçalves Perez. O auge do bônus demográfico já passou, mas o país ainda tem uma proporção razoável de população economicamente ativa. No entanto, o tempo para aproveitar essa vantagem está se esgotando. A janela demográfica brasileira começou a se fechar por volta de 2018, e as projeções indicam envelhecimento rápido nas próximas décadas.
Para não perder a oportunidade, o Brasil precisa aumentar a produtividade da força de trabalho atual e qualificar melhor os jovens que estão entrando no mercado. A reforma do ensino médio, mudanças no ensino técnico e incentivos ao empreendedorismo podem ser caminhos eficazes. Sem isso, o país corre o risco de enfrentar o peso do envelhecimento sem ter aproveitado completamente os frutos do bônus demográfico.
Em suma, Francisco Gonçalves Peres explica que o planejamento de longo prazo é essencial para lidar tanto com o bônus demográfico quanto com o envelhecimento populacional. Governos precisam olhar além dos ciclos eleitorais e estabelecer políticas públicas baseadas em dados e projeções demográficas. Ignorar essa dimensão é arriscar colher estagnação econômica, desigualdade crescente e crises fiscais nos próximos anos.
Autor: Joquar Stymish